Vaginismo é um termo antigo, misógino, patriarcalista e desumano, que era utilizado para rotular mulheres que não conseguem ter qualquer tipo de penetração, seja pelo pênis, um dedo ou qualquer outro objeto, devido à uma dor genital excessiva.
Apesar de ser a dor sexual mais antigamente descrita na literatura (mais de 200 anos), a preoupação da literatura, ao que parece, nunca foi com a qualidade de vida desta mulher, com o sofrimento causado por esta disfunção sexual ou os impactos emocionais e sobre as atividades de vida diária: a preocupação, ao que parece, sempre foi com o fato de estas mulheres "não servirem como objeto de penetração aos seus parceiros". Prova disso é o fato de, até hoje, o código civil e a igreja católica considerarem "consumação do matrimônio" a penetração em si que, quando impossível de efetuar, pode servir de justificativa para a anulação do matrimônio no civil e religioso católico.
Estes motivos seriam mais do que suficientes para que o termo vaginismo fosse não somente abandonado, mas veementemente repudiado. Contudo, finalmente, o termo deixou de existir nas duas classificações médicas mais importantes, a DSM-V (2014) e a CID-11 (2022), de modo que o termo vaginismo, do ponto de vista técnico, tornou-se também obsoleto e, porque não, brega.
Enquanto uma em cada três mulheres sofre com dores genitais durante o sexo ou logo depois dele, cerca de uma em cada vinte mulheres apresenta uma dor forte o suficiente para impedir a penetração. Apesar de serem classificadas como doenças diferentes em classificações médicas obsoletas como a CID-10 (1993, sunbstituída pela CID-11) e a DSM-IV (1994, substituída pela DSM-V), as duas situações acontecem por causa de um mesmo problema: uma hiperatividade severa dos músculos puboviscerais (primeiros músculos levantadores do ânus que comprimem a entrada do canal vaginal), conforme publicações recentes.
O problema não necessariamente impede a masturbação ou orgasmo: é comum mulheres com com impossibilidade de penetração se masturbarem, desde que sem penetração, inclusive alcançando o orgasmo normalmente. Isso porque os principais músculos que controlam o prazer sexual e a ereção do clitóris são os músculos superficiais do assoalho pélvico (inquiocavernosos e bulbocavernosos), e não os levantadores do ânus em si.
Para alguns casos muito específicos, essa contração incontrolável da MAP vem da associação de medo e dor numa espécie de cliclo vicioso: o medo, normalmente inconsciente, faz a mulher contrair fortemente a MAP em momentos relacionados ao sexo, como por exemplo num momento de excitação sexual ou quando o parceiro tenta se aproximar. Contudo, estudo demonstraram que a maioria absoluta das pessoas incapazes de receber penetração não têm medo da penetração, mas sim um problema físico: a hiperatividade dos músculos do assoalho pélvico, em particular os músculos puboviscerais (logo na entrada da vagina).
Nove em cada dez pessoas possuem um assoalho pélvico hiperativo (duro, contraturado, encurtado, com dificuldade de relaxar), mesmo que em graus mais moderados. Para todas as pessoas com vagina, isso pode refletir em alguma dificuldade durante a penetração. Os casos mais severos de hiperatividade vão causar dor durante a penetração e, em casos mais severos, uma dor intensa o suficiente para impedir essa penetração. Trata-se, portanto, de uma dor genital de origem muscular, ou do tipo 1.
Dificuldade ou impossibilidade de penetração são causadas pelo mesmo problema: uma contração incontrolável da MAP, contra a vontade, associada ou não ao medo e dor. Para resolver é necessária liberação miofascial específica e terapia cognitivo-comportamental tambpem específica para estes casos.
De um modo geral o tratamento de disfunções da penetração, sejam a impossibilidade ou a dificuldade de ser penetrada, consiste em psicoterapia e fisioterapia especializada.
Psicoterapia
Esta contração incontrolada da MAP está quase sempre associada a algum problema emocional, como ansiedade e depressão, quase sempre inconsciente. Isto significa que, na maioria dos casos, a mulher nem mesmo desconfia da existência desses problemas psicológicos.
Para que o tratamento surta efeito é fundamental o acompanhamento de um profissional de psicologia ou terapeuta sexual, que pesquisará a origem do problema. A partir daí, estar ciente do evento que desencadeou todo este processo é o primeiro passo para entendê-lo, enfrentá-lo e resolvê-lo.
Todavia, estudos recentes mostraram que os medos inconscientes podem até ser a causa do problema, mas que na maioria absoluta das vezes o medo ele é secundário, ou seja, o medo apareceu depois que a pessoa tentou ser penetrada e não conseguiu por conta da dor. Para estes casos o tratamento deve ser focado principalmente nas causas físicas, por meio de fisioterapia pélvica especializada.
Fisioterapia Pélvica
A maioria absoluta dos casos de disfunção da penetração vêm de uma hiperatividade severa dos músculos do assoalho pélvico, que a partir daí causam comprometimentos emocionais importantes, como ansiedade e depressão. Portanto, o foco principal do tratamento é a solução desta hiperatividade dos MAP, o que vai inclusive ser fundamental para o sucesso da psicoterapia para as questões emocionais advindas dessa dor sexual.
Deste modo 90% do sucesso do tratamento reside na aplicação de técnicas específicas e eficientes de liberação miofascial, particularmente técnicas para problemas musculares baseadas num tripé que consiste em 1) liberação dos chamados pontos-gatilhos; 2) massagem dos ventres musculares envolvidos e 3) alongamentos progressivos dos músculos puboviscerais.
Porém, grande parte do problema está relacinoado normalmente à falta do conhecimento corporal, especialmente com os genitais, além da baixa consciência genital ou, como chamamos tecnicamente, propriocepção. Por este motivo um treinamento muscular do assoalho pélvico eficiente, inciando em educação e propriocepção, e seguido de um treino eficiente de coordenação motora, deve seguir imediatamente as sessões de liberação miofascial (acima).
O sucesso do tratamento vai depender, também, do grau observado em cada componente. Exercícios de auto-conscientização e redescoberta da sexualidade pode ser úteis para a consciência da região genital.
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